sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Hector Zazou - Chansons des Mers Froides

Hector Zazou é um alquimista dos sons, umas vezes bem sucedido, outras nem tanto.
A abordagem que aqui faz à paleta sonora dos países banhados pelos gélidos mares é de uma áspera doçura que nos deixa muitas vezes entre o repelir e o abraçar. São as virtudes, as distinções bem próprias dos desertos gelados. Partindo da Finlândia e arribando à Groenlândia, passando pela Sibéria e por Hokkaïdo. Há melodias de uma beleza austera e terrificante.
A par de nomes que até então desconhecia, encontrei os de quem muito gosto, como Björk, Värtina, Suzanne Vega, Jane Siberry e Siouxsie.
Trata-se de, na sua maioria, música tradicional com arranjos de Zazou, onde a electrónica servida fria, acompanha de forma soberba.

HZ



terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Ingrid Karklins - A Darker Passion

Entre Riga e o Texas. O folk letão à mistura com linhagens artsy da pop e de outros folks.
Uma curta passagem pelas músicas que deixou sabor a pouco. Tantos canastrões e canastronas a arrastarem-se e a definharem de disco em disco por aí e pequenas jóias como esta que se perdem no tempo e na voracidade do consumo!
Há por vezes um belo e inquietante perfume que cheira a Laurie Anderson, que só abona em seu favor. Não sei o que a levou a abandonar esta faceta que lhe ficava tão bem, mas foi pena.
Aqui vos deixo uma boa lembrança de 1992, de uma sonoridade perdida.

A Darker Passion

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Planxty - Cold Blow and the Rainy Night

Ironicamente, alguém os apelidou de "a 1ª super banda irlandesa". Porém, um super grupo está sempre ligado a fama, estrelato e bastante dinheiro. A primeira foi pouca, o segundo foi miragem e o terceiro, ao que consta, ficaram mais a devê-lo do que a recebê-lo. Quando surgiram, no início da década de 70, a minha atenção andava, quase em exclusivo, dirigida para o rock e as suas ramificações. Não era fácil estar disponível para escutar uns malucos que andavam a mexer nas tradições musicais do século XVIII. Havia bandas de folk que me fascinavam, e dou como exemplo os ingleses Fairport Convention, mas da Irlanda não me chegava nada. Foi só em 1993, vinte anos depois da edição deste disco, que dei de caras com a música deste grupo que ainda tentou novas reuniões sem resultados idênticos aos conseguidos inicialmente. Mais vale tarde que nunca...
Cold Blow

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Cesária Évora - Mar Azul

A diva dos pés descalços ainda longe dos holofotes do êxito. As noites de Cabo Verde na voz desnuda, cantando como quem respira, por entre fumo e bebida. Os músicos que a acompanham muito ajudam para que o ambiente não se adultere, tarefa ingrata, com a interpretação em estúdio. O adorno floreado do piano de Paulino Vieira e o cavaquinho sincopado de Bao, são outros dos atractivos que fazem com que Mar Azul a par de Miss Perfumado continue a ser um trabalho maior de Cesária.
Tive a sorte de a ver e ouvir ao vivo, pouco depois de ela ter gravado esses dois discos. Penso que depois e com a sua entrada no showbizz em ritmo demasiado acelerado e ao sabor dos ditames editoriais, perdeu bastante do seu magnetismo e desbaratou pedaços d'alma...
Mas é sempre bom recordar este Mar Azul.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Mari Boine Persen - Gula Gula

Marie Boine Persen, incialmente, depois Mari Boine apenas, é uma senhora de berço Sami, povo indígena do Norte norueguês, território também conhecido por Lapónia. As origens genéticas deste povo continuam a ser um mistério para os investigadores e, análises de DNA têm atribuído a estes habitantes duma região que abrange parcelas da Noruega, da Finlândia, da Suécia e da Rússia, cromossomas ibéricos (portugueses???), asiáticos e até americanos índios! Cantora e lutadora pelo seu povo, nem sempre por ele compreendida, face à sua renovação musical e à sua condição de mulher na sociedade. Esta foi a minha primeira incursão radical nos sons do mundo e devo-a, tão simplesmente, a um dos meus mais respeitados músicos: Peter Gabriel. Havia já algum tempo que tinha curiosidade de aprofundar o catálogo da Real World e foi por aqui que comecei. Tive a grata experiência de assistir a um concerto de Mari. Bonito, envolvente, luminoso! Esta é a sua primeira obra. Daí para cá a sua música modificou-se, ganhou novas colorações, utilizou outros apetrechos, mas nunca se afastou das suas honoráveis raízes.

Gula Gula


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Silvana Deluigi - Tanguera

Corria o ano de 1992, tinha eu um programa de rádio que ia para o ar diariamente, de 2ª a 6ª feira, na Rádio Independente de Aveiro, chamado "A Paixão Segundo a Noite". Por falta de apoios publicitários, passou a ser feito apenas nas noites de 5ª e 6ª e depois acabou, com alguma pena minha. Tive, por essa altura, que investir na actualização da minha discoteca e fi-lo de forma bem intensiva. Foi também nesse tempo que comecei a reinstalar o meu aparelho senso-auditivo, saturado das sempre mesmas músicas. Pus-me à descoberta das ditas alternativas, no rock, na pop, na country, na folk, eu sei lá...
Todas as semanas, lá ia eu à loja do Centro Comercial Oita, local de compras por excelência nessa época e o empregado, sempre afável, já tinha sempre pronta uma molhada de cd's para eu ouvir e escolher. Certa vez, no meio de uma dezena de discos, lá estava este, que pus logo de lado, pensando ter sido colocado ali por lapso. Mas o empregado disse que não, fôra propositado e insistiu para que eu o ouvisse. Em boa hora! Foi a primeira vez que ouvi o Tango cantado, já que a única referência longínqua que dele tinha, era a de Gardel e apenas de nome. Foi também a partir daqui que fui em busca de Piazzolla e do Novo Tango. Este é um daqueles discos que sem hesitações levaria para o exílio na tal ilha deserta, para me ajudar a nunca esquecer das emoções!

P.S. - Aqui vai também a minha primeira experiência de download do CD na íntegra:
Tanguera
Se tiverem alguma dúvida para executar a operação, posso dar uma ajuda. Se se depararem com dificuldades para baixar, transmitam por favor.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

1ª Missão Cumprida

A primeira etapa está cumprida. Os discos que mais me tocaram durante o ano de 2007 aqui foram publicados, com uma pequena amostra na Minha Caixinha de Música. Para a semana começarei a colocar alguns cd's mais antigos e que me ajudaram a formar o meu gosto muito pessoal pelas músicas do mundo. Gostaria, no entanto, de obter da vossa parte, uma breve opinião sobre o que já aqui trouxe e de pedir ajuda para decidir se, no futuro, deverei colocar links para download completo de alguns albúns. Para já quero agradecer aos prevenidos que cá vieram ter e aos desprevenidos que aqui caíram...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Amália - Segredo

Não vou falar de Amália, pois já tanto foi, é e será dito. Apenas quero dizer que tive um privilégio raro que me proporcionou pisar o mesmo palco que a grande senhora, numa fase em que começava a exibir alguns sinais de decadência, sobretudo na sua forma de cantar. Talvez por isso e pelo tal casulo de preconceitos que a minha então tenra idade arrastava às costas, desdenhei da sua voz e recusei o seu fado! Aqui me penetencio e lhe presto a minha atrasada homenagem. O fado que abre este albúm, ouvi-o sentado, parado ao volante do meu carro, paralisado, no momento em que decorria a sua cerimónia de despedida deste mundo. Ouvi depois o Grito, difundido na própria cerimónia, o fado que era sua vontade expressa que fosse ouvido durante o seu funeral. Uma emoção atrás de outra. Voltei a ouvir    o Medo quase oito anos depois. Soberbo, o poema, crua e magistral, a sua voz! Como ela própria diria, quando ouvia Carlos Paredes nos seus célebres serões caseiros, até apetece bater-lhe...
É o medo, o dela e o nosso!

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Amestoy Trio - Le Fil

Música difícil de classificar, pelo menos para mim, e que andará à volta do swing e do jazz manouche, da valsa musette, temperada com vários cheiros mediterrânicos e latinos. Há, pelo meio, visitações que hesito em situar, à mistura com valsas e outras danças. Um acordeão, uma guitarra e uma tuba, formam este ensemble de virtuosos que têm o condão de nos atingir com a simplicidade das coisas terrivelmente bem feitas! Os instrumentos entrelaçam-se de forma solta e fresca, nós inspiramos profundamente e somos levados pelo som etéreo, campestre e gracioso.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Rónán Ó Snodaigh - Tip Toe

Este músico de facetas camaleónicas, vem desenvolvendo a sua estrutura musical em vertentes díspares, mas sempre tomando como base a tradição irlandesa e sem se desligar dos Kila, a sua banda de sempre. Tocador exímio de bodhran e detentor de uma voz absorvente e expressiva, lavador de chãos e poeta, daquilo que conheço, pouco, eu sei, julgo-me diante de um dos mais interessantes e renovadores artesãos da música celta. De entre os seus vários contributos e participações, destaco os que foram dados aos Dead Can Dance ou a Baaba Maal. Já se exibiu em Portugal, mas não sei onde, nem quando. E já tenho debaixo de olho e de ouvido um belo trabalho que produziu com o músico japonês Oki. Da distante e linda Irlanda, sempre nos chegam bons ventos de melodia!