terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Aldina Duarte - Apenas o Amor

Ouvir Aldina é quase como assistir e partilhar dum acto litúrgico, pelas palavras que nos exortam, pelas melodias clássicas revividas, pelos trinados comoventes e envolventes das cordas, pela voz sentida e crua. Uma certa mística paira no ar.
Aldina é tradição e aguçada modernidade, um passo resoluto de marco da História evolutiva do Fado, sempre com a referência do melhor passado na memória.
Como diz Carlos do Carmo no texto incluso na brochura que acompanha o CD, "Assim se faz um disco de fado que resulta conceptual e que deve ser ouvido com o respeito de quem gosta de aprender. Sim, porque do Fado sabemos pouco."
Para quem, como eu, que sabia do Fado Menor, do Mouraria e pouco mais, ouvir doze fados tradicionais e quase todos eles desconhecidos, foi uma grata e deslumbrante surpresa. Agora já sei da existência do Fado Solene, do Fado Tango ou do Fado Pedro Rodrigues de Quintilhas e posso decifrá-los na escuta.
Aldina é uma aluna do Fado e nossa Mestra na sempre aliciante aprendizagem desta nossa profunda e única expressão do toque e do canto.
Com este disco termino a revista feita à edição de 2006 do Festival Sons em Trânsito.

Apenas o Amor

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

René Aubry - Mémoires Du Futur

Eis um caso peculiar de um músico virado para conceitos intimistas, minimalistas e descritivos. Passou a maior parte da sua carreira escrevendo para outros actos artísticos, colaborando com, por exemplo, Pina Baush ou Phillipe Genty. Para além da dança e da criação teatral, a sua música foi também justaposta a diversos filmes. Não será difícil de comprovar a faceta cinematográfica das suas composições e associar imagens aos sons de René.
As palavras são diminutas, os instrumentos clássicos mesclam-se com as novas tecnologias, loops e programações, resultando numa paisagem bucólica feita banda sonora.
Às vezes, em conversas, inquirindo-me sobre certas descrições, pedem-me para referir a que etiqueta pertence esta ou aquela música. Muitas delas me sinto embaraçado, dada a prolífera teia de harmonias, orquestrações e influências. Normalmente, quanto maior a hesitação, melhor e valioso pedaço de arte estou a tentar definir.
E este é um caso bem embaraçoso...

Aubry