quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Rónán Ó Snodaigh - Tip Toe

Rónán continua sendo um dos mais singulares recriadores da música tradicional/popular irlandesa. Fá-lo com prodigioso engenho e fino trato. O seu trabalho, profícuo, matizado e fértil, orienta-nos para ares e locais de harmonia que, embora conhecidos, nos soam a frescura, no modo e no efeito. Tem a notável peculiaridade de nos surprender e de nos conduzir a estados encantatórios. Este seu álbum tem edição de 2001, mas se procurarem outros trabalhos posteriores, terão oportunidade de verificar que as qualidades se apuraram.

Tip Toe

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Eliseo Parra - De Ayer Mañana

Este disco é uma pequena maravilha e uma lição de etnologia baseada no folclore espanhol, confluindo com outros que lhe estão intimamente ligados. Os violinos levam-nos ao México, as tablas e as flautas à Índia, o alaúde ao norte de África, o berimbau ao Brasil, dando nós conta de visita ao nosso Mirandum e vislumbrando uma guitarra de teclas.
Mas não é tudo pureza. A sujidade contemporânea aparece naturalmente, sorrateira e envolvente.
O pensamento de Eliseu está bem patente nas suas declarações inclusas no disco. Traduzo-as tentando não as deturpar:
Preciso saber de onde vim e conhecer-me melhor. O que inicialmente era uma procura da minha verdadeira cultura, tornou-se no reconhecimento de uma música tão forte que nenhum compositor pode superar. A música tradicional, composta por um indivíduo - sem o intuito de ganhar dinheiro - foi entregue ao povo, este apoderou-se dela, passou-a aos seus descendentes até que chegou até nós como uma jóia polida à força de tanto ser cantada e tocada. Sem campanhas promocionais, nem monopólios de mercado. É desta maneira que a retomo, que a recrio o melhor que sei e a passo aos seguintes.

De Ayer Mañana

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Amadou & Mariam - Wati

Sempre que oiço este álbum, o meu disco duro cerebral traz-me a lembrança de várias sonoridades já escutadas. Uma delas, logo a abrir, lembra-me o british blues e os Fleetwood Mac de Peter Green, como poderão comprovar com a audição do tema que incluo na Minha Caixinha de Música.
Preparem-se então para esta mescla de guitarras blues e rock, vilolinos árabes, flautas africanas, tablas indianas, metais das Caraíbas e muitos instrumentos do Mali.
Estou na fase final do labor que me impus e que consiste em disponibilizar a audição integral de obras já aqui reportadas por mim. Esta é uma delas.

Wati

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Xaile - Xaile

Não me alongarei muito mais discorrendo sobre este disco e sobre esta banda. Trata-se de uma caso paradigmático na música popular portuguesa. Tiveram tudo para ser um êxito de grandes proporções, mas nunca ultrapassaram um estranho limbo que impediu maior sucesso. Isto não significa que o trabalho é fraco, ou que se tratou de um lapso de estratégia editorial. O fenómeno deverá igualizar outros tantos que todos os anos despontam, emergindo apenas um par de felizardos. Quantos discos de grande valia não são ignorados ou desprezados, mesmo até votados ao desconhecimento? Vale a pena ouvir este disco de ponta a ponta, coisa perfeitamente fácil, e descobrir o porquê do que atrás afirmo. Tenho a convicção que a forma pop mais ligeira que atravessa o disco, não terá sido muito bem digerida pelos mais ortodoxos e a forma folk não cativou a outra parte. E isto pode ser lido como preconceito dos dois lados.
Quer se goste, ou menos goste, esta será uma obra marcante no rico historial da música portuguesa.

Xaile

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Yungchen Lhamo - Ama

Pouco deverei acrescentar ao que sinteticamente descrevi no comentário que aqui publiquei em Janeiro de 2008. Este continua a ser o seu disco mais recente e o apetite de ouvir novas lucubrações foi crescendo à medida que o tempo foi decorrendo sem novos frutos.
Enquanto não surge outro disco, contentemo-nos com este, onde os cânticos tibetanos se ligam a sonoridades ocidentais em perfeita harmonia. Sacia-se o vazio com este prazer que nos consola os sentidos e o espírito.
Comprei-o, como vários outros, usado e em excelente bom estado de conservação. Paguei mais pelos portes do que pelo CD, mas valeu bem a pena!

Ama