terça-feira, 30 de março de 2010

Flor Amorosa - Flor Amorosa

Alice, Vanessa, Andrea, Anna Maria e Dudáh, duas vozes soprano, duas meio-soprano e uma pianista, arranjadora e directora musical. São estas as "atrevidas" que um dia decidiram meter a foice em seara de chorões, designação dada aos que compõem e tocam o choro brasileiro, vulgo chamado de chorinho e que já tem uma provecta idade acima do século.
Este género musical esteve quase em exclusividade dominado por homens e poucas mulheres se atreveram a mexer nos padrões que o regiam.
O chorinho sempre foi baseado nos instrumentos de corda, flauta e pandeiro. Aqui, as vozes educadas, são acompanhadas ao piano, proporcionando a descoberta de que os limites do chorinho são bem mais vastos e a sua riqueza incontável.
As cinco senhoras revisitam clássicos como Tico-tico no fubá de Zequinha de Abreu, Brasileirinho de Waldir Azevedo, Odeon de Ernesto Nazareth, um dos mais importantes compositores de choro e Flor Amorosa, que inspirou o nome do grupo e é da autoria daquele a quem é atribuída a sua origem, Joaquim Calado.
O chorinho não é triste por natureza, mas pode fazer chorar, aliás como muita música que nos toca bem fundo nas emoções.

Flor

sexta-feira, 19 de março de 2010

Hazmat Modine - Bahamut

Há músicas que logo aos primeiros acordes me fazem desencadear uma série de emoções que podem ir do bater do pé, ao especar atento, ou, em esporádicas situações, do soltar do arrepio. A música destes senhores teve o condão de me fazer suster os labores da hora para lhes dedicar toda a minha atenção e disponibilizar à surpresa sonora que aos poucos me invadia. Não é frequente deparar com um agrupamento de instrumentos tão heterogéneo, onde se incluem harmónicas, tuba, trompete ou fliscorne, sax, duduk (sopro milenar de origem leste europeia e médio oriente), guitarras eléctricas, guitarras havainas e steel, bateria e doshpulur (um "banjo" tuviano), mais uma voz soando a Tom Waitts. Com essa amálgama de timbres e de origens debitam um estimulante jorro sinfónico a que não podemos restar apáticos.
Estes nova-iorquinos brincam a sério e através de influências do blues, do jazz, do reggae, do klezmer, do country e da música cigana, atingem as nossas expectativas com um swing transbordante.
Apareceram-me pela frente quando andava à descoberta do canto da garganta tuviano e fui surpreendido pela sua utilização em algumas partes do disco. Foi a cereja no cimo do bolo!
Já estiveram em Portugal e felizões deverão ter sido aqueles que tiveram o ensejo de assistir às suas prestações ao vivo.
Aqui está a minha primeira referência à descoberta.

Bahamut

terça-feira, 2 de março de 2010

Sainkho Namtchylak - Time Out (Seven Songs For Tuva)

Estamos perante uma cantora de definição intrincada, pela variedade das suas interpretações, pelas vertentes díspares que explora e pelo experimentalismo que lhe está sempre associado.
Nascida em Tuva, extremo sul da Sibéria, iniciou-se pelo tradicional canto da garganta, percorrendo, até à data, percursos de jazz, electrónica, música ocidental, sempre com as bases no Leste e na Ásia Central.
Senhora de formação muiscal superior, trabalhou na Moscow State Simphony Orchestra, em vários grupos de jazz e de música folclórica da sua região natal.
Filha de nómadas, ela própria é uma errante dos sons que povoam os seus discos e as suas performances.
Dotada de voz ímpar e com a capacidade que lhe é atribuída de a estender por sete (!?!?) oitavas, é uma vocalista de conhecimento obrigatório. Depois pode-se gostar, ou não.
Actuou em Portugal e em Aveiro no ano de 2002, onde passeou as suas imensas virtudes e algum mau feitio, diga-se de passagem. Não tive ocasião de assistir ao seu concerto e vim a conhecê-la neste seu trabalho que no conjunto da sua obra se pode considerar acessível.

Time Out