sábado, 31 de dezembro de 2011

O Melonauta 2011

Mais um ano de músicas, discos, concertos e muita descoberta. É desse viajar diário pelo universo dos sons que reuni alguns pontos de roteiro. Nunca poderia caber tudo, pelo extenso do percurso e pela falta de tempo e modo. 
Aproveito para desejar a todos os meus visitantes um Novo Ano pleno de realizações, de Amor e de muita música do mundo, deste mundo que deveria ser bem diferente daquele que nos querem impingir a todo o custo.
Até amanhã!

O Melonauta

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Siba e a Fuloresta - Toda Vez Que Eu Dou Um Passo O Mundo Sai Do Lugar

Este disco é o resultado do encontro de Siba Veloso, um dos mais interessantes músicos da música popular  brasileira contemporânea, com um grupo de cantores e instrumentistas, de várias idades e intérpretes da mais pura das tradições da Mata de Pernambuco. Biu Roque era quem mais se destacava pela voz e pelo espólio musical de que era portador.
Vou explicar a ligação peculiar que tive com esta gente, deitando mão a um texto que enviei para uma página da Karina Buhr, cantora, compositora, percussionista e actriz, que já conhecia da banda Comadre Fulozinha.
Rezava assim:
Olá Karina.
Ao saber da morte de Biu Roque encontrei este seu espaço e a magnífica homenagem que aqui lhe presta.
Sou de Portugal, duma cidade chamada Aveiro e tive o privilégio de o conhecer pessoalmente. Vou contar como foi.
Siba e a Fuloresta já visitaram o nosso país por mais que uma vez para apresentar os seus espectáculos e o meu filho trabalha na agência que os representa aqui. Em Julho/Agosto de 2008 eles estiveram no Festival de Músicas do Mundo de Sines na Casa da Música do Porto e como tinham alguns interregnos entre as datas dos concertos, optaram por ficar hospedados em Aveiro e ao abrigo do meu filhão, de quem eles muito gostam. Um dia o meu filho perguntou se arranjava jantar para mais sete ou oito pessoas, coisa simples para pessoas simples. Eu disse que sim, como é óbvio, e nessa noite tive a grata surpresa de ter os Fuloresta a comer um churrasco no meu logradouro. Siba tinha viajado para a Alemanha para um evento de um outro projecto seu e Biu estava doente, tendo ficado no Brasil. Levaram os instrumentos com eles e depois do jantar brindaram-nos com Maracatus e Cirandas que soaram alto na pacatez do meu bairro. A minha mulher teve que pedir desculpa à vizinhança pelo inusitado da situação. Foi um serão único e inolvidável.
No ano passado eles voltaram e desta vez Siba e Biu estavam também presentes e embora não tivessem trazido os instrumentos, a festa não faltou.
Sentei Biu numa das cabeceiras da longa mesa, pois desta vez éramos bem mais, contando com a família, músicos e membros da agência. Desde que chegou até que partiu, Biu só calou o seu canto para comer ou beber. Impressionante! Cantava para ele, cantava para Siba, cantava para todos, ignorando se o estariam a ouvir, sempre naquela voz aguda à beira do colapso.
Em conversa com Siba confiei-lhe a minha admiração por aquele velhote de aspecto frágil que transportava um cancioneiro gigante com ele. Uma enciclopédia viva da música tradicional brasileira.
A falta de instrumentos não impediu que todo o mundo acompanhasse Biu com vozes, palmas, talheres, copos ou com o tamborilar dos dedos.
No final da noite, amparado por Siba que se manteve sempre por perto, agradeceu de forma sentida por tê-lo recebido na minha casa e pelo jantar. Fiquei apreensivo pela sua fragilidade, mas não esperava que o desenlace se desse menos de um ano depois.
Uma noite bonita para lembrar sempre!
Karina, o seu contributo para a dignificação deste músico fabuloso é de louvar e agradecer. Os brasileiros só terão a ganhar em conhecer a música de Biu Roque e o património que consigo transportou.
E agora, se me der licença, vou ouvir o seu novo disco que, confesso, desconheço!
Na cantiga que deposito na Minha Caixinha de Música, podem ouvir a voz principal de Siba e, sobressaindo no coro, a voz sempre no limite do estilhaçar de Biu.
Um disco e duas noites que guardo no cofre dos eleitos.