quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Akli D - Ma Yela


Nascido Akli Dehlis, este argelino de semblante bonacheiro, foi bem jovem para Paris, onde encetou carreira no seio da comunidade berbere. Foi também aí que procurou outros interesses artísticos, fazendo formação de actor.
Entretanto adquiriu influências de outras origens, desde o reggae ao rock, e daí até à sua estreia discográfica, seria um pulo.
De Paris para a Europa e para toda a parte e com a contribuição bem patente neste disco de Manu Chao, esteve de passagem em Portugal no Festival de Sines.
Há por aqui uma grande confluência de culturas e de estilos. O som é exuberante e abre sempre caminho à surpresa de cada início de faixa. Bom para ouvir duma assentada ou em pitadas separadas.

Ma Yela

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Ólöf Arnalds - Vid Og Vid


Não me recordo como descobri Ólöf e este seu disco. Posso, no entanto, e sem qualquer dúvida, afirmar que se tratou dum belo encontro.
O fascínio pelos largos horizontes, sejam cálidos ou gelados, sempre me acompanhou e sempre me trouxe imagens musicais de grande beleza. 
São sons simples que advêm de composições, instrumentos e voz duma delicadeza que surpreende.
A Islândia tem destas coisas. Tanto nos pode esmagar com sons profundos como os de Sigur Rós, ou com a energia das máquinas de Björk. É nesta última que podemos encontrar algum paralelismo, quer na aparente fragilidade da voz, quer nas melodias que nos transportam pelas areias e glaciares. Basta cerrar olhos e embarcar.

Vid Og Vid

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Geoffrey Gurrumul Yunupingu - Gurrumul


Gurrumul é um músico indígena australiano que canta no dialecto Yolngu e nasceu desprovido desse sentido único que é a visão. Talvez por isso tenha desenvolvido outros que lhe concederam uma peculiar intensidade de expressão interpretativa.
Não se espere um disco diferente, complexo ou inovador. Gurrumul é a simplicidade. Dele emana uma paz e uma delicadeza de estilo que nos enleva.
Dispenso-me de mais comentários e lanço o convite para a sua audição. Cai bem neste início de Outono, propício a depressões, arauto dos frios próximos. Esta voz acalenta.

Gurrumul


quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Tango Negro Trio - Tango Negro Trio


Tango Negro é um projecto do quase octogenário trombonista, pianista e cantor argentino Juan Carlos Cáceres. Completam o trio, Marcello Russillo na bateria e Carlos "el tero" Buschini no baixo. Daniel Binelli é o convidado especial para o inevitável bandoneon.
Este disco veio-me parar às mãos em altura crucial nas minhas congeminações musicais e teve o condão de me despertar novas ideias.
É tango, é mais que tango, são passagens pela negritude da batida, por outros sons que nos são familiares e que nos vão saltando ao caminho durante a audição da obra.
Este é mais um daqueles casos que comprova que a idade física está longe de agrilhoar o poder da criação artística. 
Aconselho vivamente e sem moderação...


quarta-feira, 17 de julho de 2013

Quiné - Da Côr da Madeira


O mês de Junho foi atribulado e por boas causas.
A falta de tempo levou a que descurasse a cadência mais ou menos regular das actualizações do sítio.
Bastantes horas dos dias desse mês foram por mim passadas com este músico maior. Meu mestre, meu cúmplice e meu amigo. Foi, e é, um grato privilégio poder trabalhar com alguém em quem confiamos e em quem também sentimos reciprocidade nessa confiança. É confortante e cria estímulos para novos voos.
É assim, desta singular forma, que aqui lhe presto homenagem e lhe manifesto gratidão.
O Quiné já anda nas músicas há muito tempo e sempre escolheu boas companhias.
Foi também escolhido por alguns dos mais importantes músicos de diversas áreas da música popular portuguesa. Basta fazer uma consulta à sua página - http://www.dacordamadeira.com/ - para terem uma noção do seu percurso.
O disco é quase todo feito por ele, com algumas ajudas na produção e misturas, nas vozes e noutros instrumentos.
Quiné toca timbila, kalimba, kissanje, adufes, caixa portuguesa, bombo, bilhas, congas, shakers, guizos, peneira, e, como ele diz, outras miudezas. Ah, e ainda canta.
Entre originais e tradicionais, acabando num tema de Rui Júnior, podemos deliciar-nos com o seu destro e inspirado virtuosismo.
São tesouros destes, escondidos, meios perdidos, que dificilmente aparecem nas rádios ou nas televisões. Temos mesmo que, à laia de garimpeiros, partir à sua descoberta.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Mayra Andrade - Stória, Stória...


Cabo Verde é uma fonte inesgotável de músicos. Cada ilha tem os seus ritmos, o seu dialecto próprio e formas diferentes de difundir a música dum país dividido pelo mar.
Mayra é mais uma jóia desse tesouro musical. Que inova, que recolhe, transforma, modela e os predicados nos oferece em salva.
Tive a grata felicidade de a ver e ouvir quando passou por Aveiro para divulgar este seu disco. Deslumbrante. Encantou pelo trato, pela simpatia, pela superlativa competência e pela alma interpretativa.
Se já era fã, maior apreciador fiquei.
Irrepreensível na selecção de temas e autores, sempre bailando a língua por entre dengosas cadências e envolventes melodias.
Ignorar ou desconhecer Mayra, é pecado sem remissão.

Stória, Stória...


terça-feira, 23 de abril de 2013

Ensemble Montreal Tango - Enamorada


Já nem me lembro de que forma este disco veio parar às minhas escutas.
Decerto terá sido numa feliz e inusitada oportunidade, pois estes ilustres desconhecidos merecem ser ouvidos e partilhados.
Victor Simon, pianista de origem argentina, é o director musical e foi o fundador do Ensemble. Faziam ainda parte do quinteto à altura da edição deste disco, Mélanie Veaugois, violino, Elizabeth Dubé, violoncelo, Denis Plante, bandonéon e Christophe Papadimitriou, contrabaixo.
Estamos perante um grupo de amantes da dançante música popular argentina que se dedica à exploração relevante do Novo Tango.
No alinhamento estão incluídas versões de duas peças do mestre Piazzolla.
Do Canadá para o mundo, com o encanto argentino.

quarta-feira, 27 de março de 2013

GAC - Pois Canté!!


Há discos que pressentimos ficarem datados e sem futuro. Seria o caso de Pois Canté!!, não fosse a sua fresca intemporalidade estética e a sua inovadora musicalidade. Aquilo que poderia ficar redutoramente marcado, seria o texto lírico, fortemente politizado e intervenientemente situado na época. 
Diz-nos a História que por vezes as histórias se repetem, para o bem e para o mal.
A parte estritamente musical, vocal, instrumental e de arranjo, está lá, soberba, indelével, exemplar, que serviria de fonte de inspiração a vindouros.
A parte textual, para nossa desventura, ganha, em muitas ocasiões, razão de actualidade, gerada pela escumalha política dirigente, de forma indigna e corrupta que fez regredir a democracia e os valores arduamente conquistados ao correr de quase uma geração.
Se até há algum pouco tempo, este disco pareceria uma peça de museu, volta a ser importante para lembrar ou relembrar os mais esquecidos. Ontem como hoje, FMI, Troikas e outros braços armados do poder económico mundial, ditam leis, desumanizadas e predadoras.
Oiçam...bem alto!

Pois Canté!!


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Dobet Gnahoré - Ano Neko

 
Há daqueles discos que nos prendem desde os primeiros segundos até ao esgotar das últimas notas.
Ano Neko é um deles, pelo menos comigo teve esse peculiar atributo. Cada tema abre-se para novas descobertas harmónicas, quer instrumentais, quer vocais.
Dobet viu-se refugiada em França, para onde tentou escapar à conturbada situação social vivida na Costa do Marfim, seu país natal. 
Foi na Europa que construiu a sua carreira, com o suporte das suas ancestrais influências e ao lado de músicos de elevada qualidade, com especial relevância do guitarrista francês Colin Laroche de Féline, com quem partilha vida e divide autoria de canções.
O reconhecimento do seu trabalho veio com a atribuição de um Grammy e de um BBC Award, embora isso não seja, por si só, sinal de que estamos perante coisa de valia. É preciso ouvir, sentir os luxuriantes sons com que ela nos presenteia, para auferir essa importância.
Cabaças d´água e muitas outras percussões tradicionais à compita com outros instrumentos de características mais contemporâneas, moldados a constantes arranjos vocais de extrema beleza, fazem deste disco uma peça obrigatória para quem busca na música, popular, ou não, uma forma artística de comunicação de excelência.
São os sentidos dos outros a entrar por nós adentro. 

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Tarika - Soul Makassar


Pela informação disponível a que tive acesso, este terá sido o último disco que a banda produziu e já lá vai uma dúzia de anos. No entanto, e por pesquisas posteriores, encontrei imagens de concertos bem mais recentes, em que ao nome original acrescentaram a palavra Bé. Há, também informação em que o nome é acrescentado por Sammy. Assim, é bem provável que continuem a existir, a difundir a música de Madagáscar e a sua íntima relação com a debandada do povo indonésio rumo a Oeste, por ocasião da grande erupção do Krakatoa, nos anos 500 AD.
São duas mulheres que lideram a banda, Hanitra e Noro. São elas as responsáveis pela escaldante mistura de guitarras eléctricas e instrumentos acústicos tradicionais.
A exuberância marca todo o álbum. São doze faixas de música tradicional, onde a única excepção é uma versão da mui célebre Be My Baby de Phil Sepctor, grande êxito na voz das Ronettes em 1963.
Uma bela compra em segunda mão. O disco vinha como novo. Ou o anterior dono nem sequer o ouviu, ou então tinha um tremendo mau gosto.
Deliciem-se com esta fatia de cultura malgaxe.
Em nota à margem quero referir que no ano de edição deste disco, a Time Magazine incluiu Tarika na lista das 10 melhores bandas do mundo, a par dos U2 e dos Radiohead...

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O Melonauta 2012


Colectânea de algumas das mais interessantes propostas que tive oportunidade de ouvir em 2012.
Estão incluídos alguns músicos que vi em concerto durante o ano agora findo.
Aproveito para desejar a todos um Feliz 2013!
Viva a música!

O Melonauta