terça-feira, 29 de abril de 2008

Rokia Traoré - Wanita

Li na imprensa da época (2001), uma referência bem elogiosa a este disco de Rokia, o segundo da sua carreira. Ainda sem acesso aos meios de que hoje disponho, sem ouvir um trecho que fosse, sem o conseguir encontrar nas lojas perto de mim, arrisquei a encomenda ao meu amigo Toné, que, devido à sua profissão, percorre quilómetros sem fim. Comprado em Lisboa, foi assim que o consegui, ainda mais com a grata surpresa de mo terem oferecido.
Um disco belíssimo, uma voz deliciosa, serena e vigorosa, mais o manusear soberano da guitarra. Toumani Diabaté está também presente com a sua magnífica kora.
Nascida no Mali, filha de diplomata, com ele viajou por África, pelo Médio Oriente e pela Europa. As influências de tudo isto colaram-se-lhe no gosto musical e delas fez uso para os arranjos dissemelhantes dos ancestralmente usados na sua cultura originária.
A sua dedicação às causas sociais foi um factor que também me levou ao afecto pela sua personalidade.

Wanita

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Rubén González - Chanchullo

De todos os participantes no Buena Vista Social Club, Rubén será para mim o mais importante de todos. Pelo seu virtuosismo, pela sua sensibilidade e por arranjos únicos, por vezes desconcertantes. Há muito jazz no seu percorrer do piano. Dele afirmou Ry Cooder, após a conclusão das filmagens do documentário de Wenders, "ele é o maior pianista que ouvi em toda a minha vida!" Surpreendente e inequívoca tal apreciação. Não vou adjectivar em grau o meu apreço por esta figura ímpar da música cubana do século passado, preferindo apenas dizer que gosto muito do seu trabalho e da sua arte.
O acaso, essa fortuita sombra que sempre nos acossa, deu-lhe o talento das mãos de artista, mas reservou-lhe uma grave artrite que lhe impossibilitou a magia dos dedos e o teclar do marfim até ao final da sua vida.
Viva Rubén para sempre!
E acenda-se mais um corona gigante!

Chanchullo

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Virgínia Rodrigues - Nós

Percurso bem curioso, o desta baiana oriunda de uma favela de Salvador, filha de gente bem humilde. Demorou alguns anos a passar de manicure a cantora, mas o seu desiderato cumpriu-se. Voz singular, entre o clássico e o popular, deu os seus primeiros passos em coros de igrejas. Participou também em teatro musicado e foi aí que Caetano Veloso a veio a encontrar. Já com 30 anos de idade, educa a sua voz numa oficina de canto, num curso livre. Nela incorporam a candomblé, a cultura baiana, a canção de rua, o batuque, Shubert e Verdi. É esse vaguear que esta meio-soprano percorre, que lhe empresta uma luz difusa e resplandecente, não reconhecida noutras vozes do panorama vocal brasileiro. Destaque maior para as contribuições de Caetano e de Celso Fonseca, músico brilhante de quem aqui falarei com outra minúcia em ocasião propícia.

Nós

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Taj Mahal / Toumani Diabate - Kulanjan

Ouvido pela primeira vez na saudosa TSF de outrora, estação radiofónica que aliava a notícia rigorosa com a divulgação de música de grande qualidade, logo fiquei com ele na orelha. Encontros, reencontros, a América e a África, a guitarra eléctrica e a kora. Um disco belíssimo que ainda tem a participação de outros músicos do Mali. Como o próprio Taj escreve, trata-se do completar de um ciclo, do retorno ao intacto original, o concretizar de um sonho mantido por várias gerações de africanos que viveram e vivem para lá do seu continente.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Gaiteiros de Lisboa - Bocas do Inferno

Os Gaiteiros são um dos marcos principais, talvez o maior, de uma forma diferente de encarar, cruzar, criar e interpretar a música tradicional portuguesa. Fazem-no com urdidura inventiva, sem barreiras convencionais, exibindo um saudável experimentalismo e uma divertida glosa sarcástica. Bocas do Inferno percorre o folclore português, de Trás-os-Montes ao Algarve e ainda, em tempo de fuga, descobre escapatórias até Macau, Córsega e Galiza. No meio de tudo isto, veste farda caricatural e com flautas de pan e celofanes, marcha ao som de John Philip de Sousa. Imperdível!

Bocas

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Ibrahim Ferrer - Chepín Y Su Orquesta Oriental

Por muito que editem, reeditem e inventem, nunca será feita a verdadeira justiça, devida em vida, a estes cantores e músicos cubanos, relegados, excluídos e deixados no esquecimento durante décadas. Graças a Ry Cooder e a Wim Wenders, pudemos assistir ao ressuscitar destas fénix e um pouco de equidade foi reposta. Ibrahim surge aqui acompanhado pela orquestra de "Chepín", falecido em 1984, mas continuada por outros mais jovens músicos, e pelos Los Bocucos, outra velha glória cubana. Conhecido pela sua relação estreita com os boleros, remete aqui para um amplo leque, abrangendo a Guaracha (Salsa), o Danzón e os Mambos. E vai mais um puro!

Ferrer

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Fausto - Grande Grande é a Viagem

Fausto Bordalo Dias, será para mim e para todos os que assistiram à sua eclosão artística, sempre e somente Fausto! Um dos músicos da minha geração que melhor aglutinou o tradicional, o rural e o urbano. Sempre tive por ele uma enorme admiração, não só pela sua obra decorrente, mas sobretudo pela magnitude da sua integridade musical. Um exemplo para todos aqueles que pensam que o êxito e o negócio estão na primeira mira! Este CD duplo foi gravado durante os seus concertos no Centro Cultural de Belém, nos dias 9 e 10 de Abril de 1999. Trata-se de um sobrevoo à sua pretérita discografia até à data e aqui ficaram registados momentos únicos na vida de um artista. De forma esparsa mas firme, Fausto não nos deixa à deriva e sempre nos arranja uma nau ou uma simples jangada para dele nunca desacostarmos. Este foi um daqueles concertos que lamento não ter estado lá. Resta-me e a vós também, fechar os olhos, fechar a barra e deixar a viagem correr por todos os nossos canais! Boa viagem...

Grande 1

Grande 2