sábado, 31 de dezembro de 2011

O Melonauta 2011

Mais um ano de músicas, discos, concertos e muita descoberta. É desse viajar diário pelo universo dos sons que reuni alguns pontos de roteiro. Nunca poderia caber tudo, pelo extenso do percurso e pela falta de tempo e modo. 
Aproveito para desejar a todos os meus visitantes um Novo Ano pleno de realizações, de Amor e de muita música do mundo, deste mundo que deveria ser bem diferente daquele que nos querem impingir a todo o custo.
Até amanhã!

O Melonauta

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Siba e a Fuloresta - Toda Vez Que Eu Dou Um Passo O Mundo Sai Do Lugar

Este disco é o resultado do encontro de Siba Veloso, um dos mais interessantes músicos da música popular  brasileira contemporânea, com um grupo de cantores e instrumentistas, de várias idades e intérpretes da mais pura das tradições da Mata de Pernambuco. Biu Roque era quem mais se destacava pela voz e pelo espólio musical de que era portador.
Vou explicar a ligação peculiar que tive com esta gente, deitando mão a um texto que enviei para uma página da Karina Buhr, cantora, compositora, percussionista e actriz, que já conhecia da banda Comadre Fulozinha.
Rezava assim:
Olá Karina.
Ao saber da morte de Biu Roque encontrei este seu espaço e a magnífica homenagem que aqui lhe presta.
Sou de Portugal, duma cidade chamada Aveiro e tive o privilégio de o conhecer pessoalmente. Vou contar como foi.
Siba e a Fuloresta já visitaram o nosso país por mais que uma vez para apresentar os seus espectáculos e o meu filho trabalha na agência que os representa aqui. Em Julho/Agosto de 2008 eles estiveram no Festival de Músicas do Mundo de Sines na Casa da Música do Porto e como tinham alguns interregnos entre as datas dos concertos, optaram por ficar hospedados em Aveiro e ao abrigo do meu filhão, de quem eles muito gostam. Um dia o meu filho perguntou se arranjava jantar para mais sete ou oito pessoas, coisa simples para pessoas simples. Eu disse que sim, como é óbvio, e nessa noite tive a grata surpresa de ter os Fuloresta a comer um churrasco no meu logradouro. Siba tinha viajado para a Alemanha para um evento de um outro projecto seu e Biu estava doente, tendo ficado no Brasil. Levaram os instrumentos com eles e depois do jantar brindaram-nos com Maracatus e Cirandas que soaram alto na pacatez do meu bairro. A minha mulher teve que pedir desculpa à vizinhança pelo inusitado da situação. Foi um serão único e inolvidável.
No ano passado eles voltaram e desta vez Siba e Biu estavam também presentes e embora não tivessem trazido os instrumentos, a festa não faltou.
Sentei Biu numa das cabeceiras da longa mesa, pois desta vez éramos bem mais, contando com a família, músicos e membros da agência. Desde que chegou até que partiu, Biu só calou o seu canto para comer ou beber. Impressionante! Cantava para ele, cantava para Siba, cantava para todos, ignorando se o estariam a ouvir, sempre naquela voz aguda à beira do colapso.
Em conversa com Siba confiei-lhe a minha admiração por aquele velhote de aspecto frágil que transportava um cancioneiro gigante com ele. Uma enciclopédia viva da música tradicional brasileira.
A falta de instrumentos não impediu que todo o mundo acompanhasse Biu com vozes, palmas, talheres, copos ou com o tamborilar dos dedos.
No final da noite, amparado por Siba que se manteve sempre por perto, agradeceu de forma sentida por tê-lo recebido na minha casa e pelo jantar. Fiquei apreensivo pela sua fragilidade, mas não esperava que o desenlace se desse menos de um ano depois.
Uma noite bonita para lembrar sempre!
Karina, o seu contributo para a dignificação deste músico fabuloso é de louvar e agradecer. Os brasileiros só terão a ganhar em conhecer a música de Biu Roque e o património que consigo transportou.
E agora, se me der licença, vou ouvir o seu novo disco que, confesso, desconheço!
Na cantiga que deposito na Minha Caixinha de Música, podem ouvir a voz principal de Siba e, sobressaindo no coro, a voz sempre no limite do estilhaçar de Biu.
Um disco e duas noites que guardo no cofre dos eleitos. 

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Ragnheiður Gröndal - Þjóðlög

Julgo que por motivos meramente comerciais esta jovem cantora islandesa é hoje em dia mais conhecida por Ragga Gröndal. Apesar da sua juventude é já deveras considerada e sobejamente galardoada no seu país natal pela obra já produzida.
É escassa a informação que dela possuo e o que consegui obter diz-me que se formou na FIH - Escola de Música de Reykjavik e que durante dois anos cursou a New School for Jazz and Contemporary Music de Nova Iorque.
Conta já com seis álbuns a título individual, onde se dedica à música tradicional islandesa, para além de discos em parcerias onde aborda a mesma temática e também o jazz.
Þjóðlög, esta palavra esquisita para nós portugueses, traduzida, significa canções populares. É disso que este belíssimo disco trata. Belas e serenas melodias do cancioneiro popular da Islândia, com muito rigor e gosto apurado.
A amostra que vos deixo na Minha Caixinha de Música, é um velho tema já recriado pelo génio enorme da sua conterrânea Björk.
Música dos infindáveis mares gelados, para ouvir junto ao conforto duma lareira.

Þjóðlög

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Boris Kovac & Ladaaba Orchest - The Last Balkan Tango

Revisitei este disco antes de proceder à sua publicação aqui e antecedendo os comentários que abaixo me aprazerá expor. O reencontro não poderia ser melhor.
Boris Kovac é um músico distinto com obra de cariz diverso, projectos vários e de uma qualidade acima de qualquer suspeita.
A sua música é ilustrativa, cinematográfica e sobretudo teatral.
À volta duma base de clarinetes, saxofones e acordeão, circundam percussões ligeiras, contrabaixo, violino e guitarra, numa longa suite evocativa do folk balcânico brotado do pós-guerra e duma época de horrores incontáveis.
Poder-lhe-ia chamar de música popular de câmara, tocada em estúdio, em ambiências retro, como se de um concerto se tratasse. No penúltimo tema a banda é integralmente apresentada com os devidos destaques. Apenas faltam as palmas.
Simon Broughton, editor da Songlines, designou-o como "o rei do cabaret apocalíptico".
Não estamos perante o tradicional festivo da música daquelas paragens. Há um grande amargo de espírito que é invocado na sua frase de despedida - "See you on a better world"...
Aconselho vivamente!


quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Mitya Kuznetsov - The Book of Dove

Para ser sincero, disponho de parca informação sobre o músico e sua obra. Bastou-me, no entanto, uma sumária audição para rapidamente me encantar com este disco. Digamos que houve uma sinceridade transmitida que não me deixou indiferente.
O disco acolhe música tradicional russa, ao que me apercebi de origens bem remotas, submetidas a novas roupagens e a novos processos de execução ou arranjo.
O músico compraz-se e oferece-nos o seu edifício construído com instrumentos tradicionais que vão das cordas à percussão, passando por flautas e gaitas, evitando as teclas, normalmente aplicadas a estes estilos e que as tornam, muitas vezes, enfadonhas.
Soa a quê? Difícil explicar, daí que é melhor ouvir. 
Há uma certa cultura new age abrangendo melodias ancestrais e a que se juntam influências declaradas de África, da América e da música celta.
Mitya canta e toca todos os instrumentos, recebendo a colaboração de duas senhoras, no canto, no hurdy-gurdy e no violoncelo.


quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Tcheka - Nu Monda

Tcheka é duma simplicidade desarmante, o anti-ídolo. o músico no seu canto, empenhado no essencial, transmitir as suas palavras crioulas e os sons que da ilha de Santiago consigo transporta. Foi essa a imagem que dele guardei. Um menino grande, quase envergonhado, que se solta para espraiar toda a musicalidade de que está imbuído.
Para quem associa a música cabo-verdiana apenas às mornas e às coladeras, este disco é fundamental para acrescentar os funanás e os batuques. O mar dividiu o arquipélago e as populações das ilhas tomaram diferentes rumos culturais que lhes chegaram por avito legado.
No primeiro contacto com a sua música, descortinei algumas semelhanças com o guitarrista de origem nigeriana Keziah Jones (Olufemi Sanyaolu), na forma percutida imitando o chamado slapping que é utilizado nas guitarras-baixo.
Muitas das suas composições vão da dolência ao frenesim, vogando ritmos, com a sua voz terna e rouca, deslizando por falsetes, sempre dominante.
Já conhecia este álbum quando assisti ao concerto promocional daquele que viria a seguir, Longi, disco produzido por Lenine e gravado no Brasil, onde são notórias as influências dessas opções. Ouçam os dois. Só saem a ganhar.

Nu Monda

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Programação Musical - Outubro a Dezembro

Podem ver mais abaixo, no Farol da Barra, alguns concertos que vão animar quatro salas de Aveiro, Ílhavo, Vagos e Estarreja.
A selecção é minha e abrange o clássico, a pop, o jazz, o rock e a música do mundo.
Ofertas não faltam e não há desculpas para ficar em casa.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Laço Tayfa - Bergama Gaydasi

Estamos perante a banda liderada pelo clarinetista Hüsnü Senlendirici, músico influenciado pela tradição musical da sua família Roma, ciganos da Europa de Leste. Começou por actuar com seu pai e após cursar o Conservatório de Istambul foi à procura de novos desafios que o levariam a assimilar outros influxos que foi incorporando nas suas prestações.
Os Laço Tayfa são o retrato dessa aglutinação de sonoridades. Partem do folclore cigano turco, viajam pela Índia, pelo Norte de África e pelos vizinhos árabes. Por um lado, ouvimos a contemporaneidade baseada nos teclados electrónicos, no baixo eléctrico e na bateria, pelo outro, o rendilhado dos instrumentos tradicionais, a zurna, a baglama ou o kanun.
Claro que o clarinete está omnipresente como elo de ligação e o espectro final é todo ele envolvido por um estimulante jazz sincopado.

Bergama Gaydasi

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Bugotak - Siberian Tales

Férias, já deixadas para trás, afazeres diversos e alguma preguiça, ditaram este hiato na actividade. Espero que retorne o ânimo que os discos são espécie copiosa.
Retomo tarefas com este álbum de 2005, pertença dum trio oriundo de Novosibirsk, coração da Sibéria, terceira maior cidade russa.
Sendo um grupo alicerçado na música tradicional daquela agreste região asiática, pelo facto de vir de uma grande urbe, aquilo que nos dão a ouvir está longe da tradição pura e dura. Há um constante deambular pelo antigo e pela contemporaneidade, baseado nos instrumentos tradicionais e nas práticas vocais doutrora.
Na página oficial da banda na internet, citam influências e divulgam o que pensam a que a sua música pode soar. Da lista, posso adiantar Young Gods, Peter Gabriel, Yat-Kha, Jethro Tull, Dead Can Dance ou Huun-Huur-Tu.
O grupo é liderado por George Andriyanov que toca tudo e mais alguma coisa e nos encanta com algumas variantes do esplendoroso canto da garganta.
Um disco a desvendar com a expectativa do sobressalto desperto.

Bugotak

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Haig Yazdjian - Beast on the Moon

Descendente de pais arménios, nasceu na Síria e viveu grande parte da sua vida na Grécia.
Haig é um multi-instrumentista que usa a voz como complemento dos tecidos harmónicos que produz. Como ouvinte e especial amante da coisa vocal, gostaria de o escutar mais vezes nessa vertente. É, no entanto, ao alaúde que dedica uma fatia mais intensa, fazendo circular à sua volta todos os fios da composição e manejos.
Estamos perante um trabalho que revela alguma rotura com o seu passado de músico tradicional, onde procura inovar, agregando novas sonoridades, sendo bem detectável a sua aproximação ao ocidente. A presença de elementos electrónicos comedidos mas intervenientes, torna-se um aconchego de fusão nas formas etéreas e suaves com que este virtuoso prolífico nos contagia.
Beast on the moon é um álbum eminentemente instrumental, onde a voz ligeiramente nasalada, límpida e aveludada, se intromete por apenas duas vezes. A abrir e a fechar. Mas são dois momentos sublimes deste belo disco que me apaixonou desde logo. É um desses lances que vos proponho para audição na Minha Caixinha de Música. Se gostarem, o que não será difícil, podem levar todo o brilhante resto.

Beast

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Las Hermanas Faez - La Trova De Las Faez

Este mês tem sido complicado e o tempo pouco para actualizar as minhas músicas.
O empenho de Ry Cooder veio dar uma nova visibilidade à música cubana, principalmente aos artistas da primeira metade do século XX que foram atirados para o esquecimento.
Este disco é de 2000 e as Faez serão agora octogenárias. Há nele um clima misto de fragilidade e de grande força de mostrar a capacidade de ressuscitar muito tempo perdido.
Damas de serenatas, cantigas de rua, de boleros dolentes e antigas nostalgias, não temeram o risco e avançaram pelo fio da navalha.
Vale pelo documento, pela musicalidade poderosa, pelos arranjos e por aquele sabor doce que a velhice transporta. Faz-nos acreditar que a idade é um estado de alma que nos levanta ou derrota o corpo.
Enternecedoramente bonito!

La Trova

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Wig A Wag - Wig A Wag

Muitas bandas, das mais variegadas partes do globo, se deixaram seduzir pela fusão do rock com o folclore. Com frequência deparamos com projectos atractivos, bem fundidos e que chamam a minha atenção sempre expectante.
Os Wig A Wag são franceses e procuram navegar pelo rock progressivo e pela música tradicional bretã e celta. O resultado é de esmerada qualidade. Músicos competentes, virtuosos até, composições elaboradas e um som final que soa bem agradável ao ouvido. Esta mistura de instrumentos eléctricos e sintetizadores com bombardas. gaitas galegas, bendires ou flautas irlandesas, torna-se doce ou explosiva, conforme os desenvolvimentos das peças eminentemente criadas em formato de sinfonia.
Desconhecidos? Há tanta pérola por aí à espera da concha descoberta!

Wig A Wag

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Rajery - Fanamby

A música popular da grande ilha de Madagáscar tem a peculiaridade de, sendo basicamente africana, possuir vários elementos que a fazem diferenciar da dos seus vizinhos mais próximos, Moçambique, Tanzânia ou África do Sul.
As polifonias vocais e os instrumentos utilizados serão causas para o provindo que se escuta. As marés que lhe chegam do outro lado do Índico e a proximidade de rotas marítimas oriundas do Atlântico-Sul, também não serão indiferentes ao som apurado.
Rajery é um exímio tocador de valiha, uma cítara ou harpa feita de bambu e em forma tubular. Apesar do seu virtuosismo, é com algum pasmo que damos conta que executa com uma mão só, já que a outra lhe foi amputada, devido a envenenamento alimentar, quando era ainda criança.
Para além de instrumentista é um profundo estudioso e professor da sua cultura musical. Este seu CD é uma pequena maravilha que vale a pena conhecer.

Fanamby

quarta-feira, 20 de abril de 2011

María do Ceo - Dúas Almas do Miño

Nasceu portuguesa, na cidade do Porto, mas foi mais a norte, do outro lado da fronteira de outrora que María se entregou à paixão pelo fado. Começou por cantar alguns fados considerados standards como "Júlia Florista", "Rua do Capelão" ou "Ai Mouraria", e até 2004 sempre fez questão de cantar e incluir nos seus discos, fados ou cantigas bem portuguesas.
A partir de 2002 a fadista vai deixando entrar, paulatinamente, as suas influências naturalmente galegas, vai moldando a carreira e apurando o canto. A par dos fados vão surgindo boleros, cantigas populares luso-galegas, tangos, pedaços de cancioneiros hispânicos e desperta a atenção de públicos e observadores.
María do Ceo é uma admiradora profunda de Amália, cantou muitos dos seus fados e foi convidada a participar, em 2001, num espectáculo-tributo à grande diva que ocorreu no Coliseu de Lisboa.
Será um pouco estranho escutar fado cantado numa língua que não a portuguesa, mas passado o primeiro impacto damos conta que harmoniosamente tudo se funde sem atritos.
Entre o Minho e o Miño apenas existem um ñ em vez do dígrafo e um rio que não divide, antes faz a junção de dois povos.

dúas almas do miño

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Kiran Ahluwalia - Kiran Ahluwalia

Kiran nasceu a norte da Índia, de progenitores punjabis, tendo emigrado com eles para o Canadá, ainda criança, e crescido no seio duma comunidade sul-asiática. A família teve sempre a preocupação de a não desligar das suas raízes, mormente da música nativa. Mais tarde retornaria à Índia para melhor aprender os sons do seu berço. Dedicou-se em especial à tradição ghazal, género literário em forma de poema lírico que consagra o amor, o misticismo e a paixão sacrificada em seu nome.
Como ela o afirma publicamente, foi a melancolia suave que a seduziu. Sendo melodias que abordam a tristeza, não o exprimem versando contornos depressivos.
Não são, porém, peças tradicionais no seu todo. Há uma multiculturalidade notória no resultado final e a isso não será indiferente a participação de músicos canadianos com uniões à cultura celta. Estão assim associados instrumentos tradicionais como a tanpura que ela mesma toca, o sarangui ou as tablas, com outros de sonoridade ocidental.
Li algures que Kiran é amante de fado e que encontra nele fonte de inspiração. São inesgotáveis as fusões culturo-musicais que exuberantemente se nos apresentam e para as quais somos convidados em fascinantes sortilégios.

Kiran Ahluwalia

quarta-feira, 23 de março de 2011

The Shin - Many Timer

Esta banda de músicos da Geórgia radicados na Alemanha há já alguns anos, pratica uma fusão de géneros baseada numa miríade de influências. Músicos maduros, experientes e de excelente craveira técnica que partindo do folclore georgiano irrompem pelo rock progressivo, pelo jazz, pelo flamenco, pelas riquíssimas polifonias vocais caucasianas e atingem uma sonoridade assaz cativante. Tanto soam a uma gypsy band como, aqui e ali, lembram os magníficos Gentle Giant. Vão do acústico ao eléctrico, misturam sons sintetizados com dudukis e panduris e o baixista não esconde a enorme influência de Pastorius. Funcionam em trio mas recebem, aqui e noutros eventos, o contributo de vários músicos oriundos dos Estados Unidos, da Turquia e do Azerbaijão, para além de outros compatriotas.
2010 foi um bom ano para eles e o ano corrente afigura-se-lhes de grande proficuidade, estando já anunciados em múltiplos concertos e festivais pelo mundo, incluindo a presença no Rainforest World Music Festival da Malásia.
De visitas a Portugal é que ainda não há sinais.

Many Timer

quinta-feira, 10 de março de 2011

Orchestra Baobab - Spécialist In All Styles

Falar em World Music e não citar a Orchestra Baobab como um dos exemplos dos cruzamentos culturais e musicais mais relevantes, é uma lacuna imperdoável.
Banda senegalesa, fundada em 1970, é mais uma daquelas instituições que devem ser consideradas património de toda a humanidade.
Estiveram inactivos durante quinze anos e voltaram, com outra pujança, em 2001 para uma nova e exuberante vida.
Nesta amálgama de sons e culturas vislumbram-se ritmos cubanos, boleros, rumbas congolesas e outros sinais africanos. Isso deve-se, notoriamente, aos músicos que ao longo dos anos integraram a banda e que foram chegando do Togo, do Mali, de Marrocos ou da Guiné-Bissau. Ninguém se espante se ouvir umas palavras portuguesas pelo meio.
O disco tem produção doutro senegalês de excelência, Youssou N'Dour e a participação do grande e saudoso Ibrahim Ferrer.
Há muitas bandas decadentes, nomeadamente na área pop/rock, que teimam em ressurgir para saturar os nossos ouvidos, mas a Baobab voltou para nos deliciar com a magia dos sons que a sua mesclada cultura transporta.
Estiveram, imaginem, pela primeira vez em Portugal, nesta minha cidade que é Aveiro e para apresentar este mesmíssimo disco. Por essa altura, inícios de 2003, andava ainda um bocado distraído destes eventos e perdi, ao que me contam, um concerto imperdível.

Baobab

terça-feira, 1 de março de 2011

Diana Baroni Trio - Nuevos Cantares Del Perú

Descobri Diana Baroni pela mão do meu amigo Alonsii, desde Barcelona, ele que foi um dos meus suportes iniciais nesta minha faceta de bloguista. Aqui lhe deixo o meu grato reconhecimento.
Diana nasceu na Argentina e foi em Buenos Aires que iniciou a sua formação e onde encetou a sua carreira musical na música contemporânea. Vem depois para a Europa e com o fito de estudar profundamente os meandros da música antiga. É entre a Suiça e a Holanda que divide essas pesquisas, tendo integrado, posteriormente, o ilustre grupo Café Zimmermenn, aí sendo co-galardoada por interpretações de obras de Johann Sebastian Bach. É a sua fase do barroco que viria a ser fundamental na sua etapa mais próxima.
No início do século XXI começa a dar os primeiros passos na música afro-peruana. Vem para Espanha e recomeça novos ensaios e pesquisas. Este CD é fruto disso e reflecte a sua visão do encontro da música barroca e das tradições musicais hispânicas disseminadas pelas ex-colónias. À flauta barroca transversal, que fora o instrumento de base do seu percurso, junta a voz e tudo muda.
Inspiração importante foi, sem dúvida, a grande Chabuca Granda. Algumas canções suas, de entre as quais a que escolhi para amostra, podem aqui ser escutadas com as tais roupagens mistas com que Diana e o seu trio as cobrem.
Estiveram em Portugal já por duas vezes, a última das quais em Março do ano passado, no CAE da Figueira da Foz, mas não me dei conta do evento. Pena minha. Estaria lá, por certo!

Diana Baroni

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Mostar Sevdah Reunion - A Secret Gate

Na minha avidez de conhecer mais a fundo a música cigana do centro da Europa, ou outras com as suas influências, deparei com estes bósnios de Mostar. Os sons característicos daquela zona sempre me fascinaram mas só há pouco tempo é que lhes dispensei alguma melhor atenção. Esta banda pareceu-me, desde logo, bem genuína e representativa da música popular do seu país.
Desde 1998 foram somando plateias cada vez mais numerosas e atentas. Foram também acumulando presenças em festivais e recebendo vários galardões pela sua obra.
A melancolia atravessa todo disco e mesmo os trechos mais alegres não apresentam a exuberância festiva doutras bandas de países oriundos da desmembrada Jugoslávia. Talvez isso se deva ou seja fruto de tanta desgraça que por ali se viveu.
Um disco a descobrir.

A Secret Gate

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Guinga - Suíte Leopoldina

Ora cá temos mais um ilustre quase desconhecido por estas bandas e suponho que também por terras brasileiras. Guinga, de seu nome Carlos Althier de Sousa Lemos Escobar, é um emérito compositor, brilhante instrumentista que canta menos mal. Daí recorrer a alguns amigos cantores para interpretar as suas criações. E que amigos, que cantores! Então vejamos: Chico Buarque, Ivan Lins, Nei Lopes, Lenine, Ed Motta e Alceu Valença. A abrir e a fechar o disco temos a inigualável harmónica de Toots Thielemans.
Esta Suite vai do clássico dedilhado da guitarra até aos populares chorinhos e sambas. Guinga mostra-se competente, quer no jazz, quer no baião. Metade instrumental, metade cantado, o disco evolui de forma harmoniosa e quando o canto surge, as palavras são sabiamente escolhidas, sejam dele ou de parceiros, denotando um enorme e contundente sarcasmo.
Escolhi, para vossa audição na Minha Caixinha de Música, um trecho feito a meias com Aldir Blanc, cantada por Valença, onde homenageia o mestre Hermeto Pascoal e nos enleia com a sua intrincada teia sonora.
Talvez pelo sucesso comercial não ser o melhor, ou por paixão dupla, Guinga continua a exercer a sua profissão de ortodontista, ao que parece, com relevância maior. Na música já sabemos do que é capaz.
Como diz a letra inspirada por Hermeto: Se a criação é mais, se o músico for bom...até penico dá bom som!

Suíte

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Djelimady Tounkara - Solon Kôno

Este disco foi-me oferecido há quatro anos como prenda de aniversário e confesso que não conhecia o músico e a sua obra. Sabia que o Mali era, e é, fértil em musicalidade e com uma riqueza ímpar de talentos, mas de Djelimady não tinha qualquer rasto.
Quando seleccionei o disco para publicar aqui, estava também longe de saber que Djelimady integrava o projecto AfroCubism, encontro de músicos de África e Cuba que esteve agendado para o ano de 1996 e que somente veio a ver a luz do dia em 2010.
Andou meio despercebido no seio de orquestras e grupos de apoio a figuras de primeira como Salif Keita ou Mory Kanté, só se revelando a solo a partir de 2001. A sua técnica e arte atravessam um vasto leque de origens e influências que vão da tradição mais pura até a algumas paragens não africanas. Ele é o guitarrista por excelência e para ajuda chamou alguns nomes cujos apelidos são de famílias sobejamente conhecidas. Encontramos outros Tounkara, mais Sissoko, mais Diarra, mais Kanté e Diabaté que se espraiam por vozes e instrumentos diversos.
Aconselho a escuta e incentivo a descoberta de outros elos que da sua obra se unam.

Solon Kôno