segunda-feira, 23 de junho de 2008

Susheela Raman - Love trap

Normalmente levo as memórias ao sabor da pena, em devoto silêncio e ganhei a mania de julgar que as lembranças não se perdem, no seu essencial. Mas algumas perdem-se! Quando ouvi este CD pela primeira vez, sei-o agora que estou a revisitá-lo enquanto alinhavo estas letras, não guardei devidamente partes fulcrais com que agora me delicio. Ouço os sons do canto da garganta (throat-singing asiático) e não me recordo de os ter escutado na primeira abordagem. E há ainda outros mares e outros continentes que regressam aos meus ouvidos. A base, essa está intacta, a ponte que leva o ocidente à Índia e o traz de volta, essa mantive-a desde a primeira audição e o muito agradável concerto que dela vi. Foi com fluida versatilidade que encantou, cantando tradicionais indianos, Joan Armatrading ou Tim Buckley.
Vale a pena conhecer esta inglesa, descendente de pais Tamil, dona de uma sensualidade esquiva, de gosto irrepreensível, sempre rodeada de músicos superiores de todo o mundo.
O resultado está disponível para quem quiser ouvir!

Love Trap

domingo, 15 de junho de 2008

Kimmo Pohjonen - Kluster

Se no caso de Cibelle já tinha uma pequena referência que me permitia conjecturar sobre os seus préstimos, de Kimmo apenas sabia que vinha da Finlândia, tocava acordeão e que os seus espectáculos eram de imprevisível duração, chegando a prolongar-se por quatro e cinco horas!
O primeiro contacto foi só...fabuloso e inesquecível!
Homem, acordeão e microfone, fundidos numa mola sonora que vai esticando e contraindo, do estampido ao sussurro. Ao lado, outro homem, Samuli Kosminen, percussionista electrónico, manipulador de todo o som que Kimmo lhe vai doando. Depois é o cenário e a coreografia luminosa de cores de fornalha, e mais aquele vulto que se levanta e senta, se dobra, cai sobre os joelhos, se deita, rebola, rasteja e permanece, rosto para além do cimo, da teia, do telhado, das nuvens pesadas que fecham o céu de Outono, abraçado ao fole teclado de botões, nunca lhe dando tréguas.
O espectáculo não durou mais de hora e meia, contrariando os mais optimistas. No dia seguinte soube que magoara um pé e que teria acabado o concerto em grande sofrimento. Quem diria!
Nem sei definir a sua música com exactidão. Pensem em folk escandinavo, rock do duro, improvisação, avant-garde, e muita, muita experimentação. Depois, é só deitar no shaker...

Kluster

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Cibelle - Cibelle

Fui ver um concerto desta menina paulista sem ter ouvido uma única nota mais, para além de um tema deste seu primeiro CD que esporadicamente passava na rádio. Nem sequer lhe conhecia o rosto. Diria que estava perante uma quase desconhecida a quem, timidamente, estava prestes a abrir a porta. E de repente a ombreira se escancarou e a torrente foi invadindo sem pedir licença. Percussões e programações, cuícas e samplings, pandeiros e loops, gira-discos e vozes. Pelo meio, vinham sons de guitarras, melódica, Clavinet, Mellotron, Rhodes, trombone, Wurlitzer, uns tratados e outros singelos. Depois, foi seguir os trilhos e acompanhá-la pelo Jazz, pela Bossa Nova, pela MPB e ouvir como Jobim, por um lado, e a electrónica por outro, nos levaram a passeio por entre as 11 faixas que integram o registo.
Cibelle compõe, toca vários instrumentos, produz e nos oferece em voz bilingue, a sua primeira viagem no mundo discográfico.
E a novata menina se revela um mulherão...em todos os sentidos!!!