quarta-feira, 30 de julho de 2008

El Bicho - El Bicho

A par dos Ojos de Brujo, são das bandas mais atractivas no panorama vastíssimo da música dos nossos vizinhos espanhóis. Gente muito nova, mas com muito talento. Ostentam uma mescla de flamenco, rumbas, tangos, jazz, rock, pop e ritmos afro-latinos.
Ao vivo demonstram uma animação demolidora e mesmo algumas acrobacias algo exageradas do seu cantor e mestre-de-cerimónias, não chegam para deslustrar o brilhantismo do colectivo.
Para ouvir agora e ver na próxima oportunidade.

El Bicho

terça-feira, 29 de julho de 2008

Robert Wyatt - Cuckooland

Estamos perante um músico de árdua catalogação. Desde os anos 70, em que integrou os Soft Machine, banda que aliou o rock progressivo ao jazz, até aos nossos dias, Robert sempre manteve uma fértil e bem interessante carreira. Confinado, desde 1973, a uma cadeira de rodas, resultado de uma noite de excessos e a uma queda de um 3º andar, nem por isso a sua força de viver e de fazer música se desvaneceu. Continuou a tocar o seu instrumento, a bateria, apurou-se noutros, como o piano e a trompete, e compôs canções para quase uma quinzena de álbuns. Interessou-se por outras músicas e outras culturas, tocou com gente como Fred Frith, Mike Oldfield, Carla Bley, Phil Manzanera, Ryuichi Sakamoto, David Gilmour, Elvis Costello, Sting e Björk.
A sua música é de uma delicadeza atroz, simples e intrincada em simultâneo. E a sua voz de múltiplas oitavas é um desfiladeiro de emoção que parece querer transportar-nos ao seu âmago mais secreto.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Oumou Sangaré - Worotan

A grande embaixadora do Mali musical, lutadora pelos direitos da mulher africana, especialmente coarctados naquela região do mundo. Conjugando a dolência com o festejo, a amargura com a perseverança, misturando uma plêiade de músicos e instrumentos, atinge uma diversificada teia de ambientes, onde os djembe, os bolon e as cordas dão o mote. À sua vez, seguem-se sopros e percussões. E depois as vozes, em coros polifónicos de bonita e singela coadjuvação.
Oumou é também conhecida pelo "pássaro cantor de Wassoulou" (histórica região a Sul do rio Níger) e a sua música vai beber às fontes profundas das tradições e dos rituais de caça do seu povo.

Worotan

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Dervish - Spirit

Já com duas décadas de existência, os Dervish são uma das mais estimulantes e virtuosas bandas irlandesas. Basicamente dedicados aos tradicionais celtas, atrevem-se esporadicamente na composição e na reconversão de alguns temas de autor. Sinceramente, prefiro as suas interpretações bem urdidas e irrepreensíveis dos primeiros. É aí que o grupo se movimenta como peixe na água e nos presenteia com pedaços brilhantes da tradição.
A capa parece um outdoor publicitário de um destino turístico, mas o conteúdo, acreditem, é bem melhor.
Estiveram recentemente em Coimbra, como atracção, no festival Eurofolk'J. Quem lá esteve e assistiu pode e deve dizer aqui de sua justiça. O infotório agradece!

Spirit

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Sigur Rós - Ágaetis Byrjun

A uma primeira audição, em fonte medíocre, com atenção dispersa mas suficientemente desperta, juntei as crónicas elogiosas da época e adquiri este cd para então, com total disponibilidade, nele me embrenhar.
Uma autêntica aventura nos confins dos gélidos mares!
Ainda hoje e sempre que o oiço, a pele se me arrepia, não de frio, mas de pura emoção.
Aconselho, a quem nunca o fez, a ouvir estas e outras músicas na penumbra ou no breu e libertar corpo e alma à corrente dos sons. Não vai ser difícil seguir pelos desertos gelados e pelo mar à volta da recôndita ilha. Lá encontrarão os ventos cortantes do deserto branco e o gotejar dos glaciares.
Uma obra-prima e um dos discos da minha vida!
Não será esta a soul branca?

Agaetis

domingo, 13 de julho de 2008

Natacha Atlas - Ayeshteni

Natacha é mais um daqueles frutos da miscigenação cultural e das paixões que lhe estão intrínsecas. Nascida na Bélgica de mãe inglesa e de pai com derivados marroqionos, egípcios e judaico-palestinos, após a separação destes, passou a viver e crescer na Inglaterra. Cedo começou a pôr em prática as dádivas genéticas, e das incursões na música das caraíbas, às experiências com os Trans-Global Underground, onde se tornou a voz da frente, logo a sua linha de prumo se foi definindo. Aos 35 anos de idade casou com o músico sírio Abdullah Chhadeh e mais se estreitou a rota entre o Oriente e o Ocidente.
Este álbum é um retrato disso mesmo, misturando as raízes de Natacha, as construídas e as herdadas, com as adquiridas na sua vivência europeia.
Esteve em Portugal, no ano passado, na Casa da Música do Porto, mas infelizmente não pude assistir ao concerto. Resta-me o prazer de a ouvir em disco e de a divulgar a quem não a conhece.

Ayeshteni

domingo, 6 de julho de 2008

Buena Vista Social Club Presents: Omara Portuondo

Não foi por negligência, nem por falta de motivação que demorei na actualização do blogue. Este inusitado e involuntário hiato, deveu-se a uma indisponibilidade do tempo de que necessito para manobrar todas as operações exigidas. As informáticas e as cerebrais.
Volto com esta Senhora, verdadeira diva e uma sobrevivente do Buena Vista Social Club. Dispenso as apresentações, pois suponho que um pouco mais ou um pouco menos, já a tenham ouvido. Este é um disco onde preponderam os boleros, pelo meio de outras canções cubanas e até de Gershwin.
Tive ocasião de a ver e ouvir, na sua única passagem por estas terras e foi das noites musicais mais comoventes da minha vida, fruto de uma prestação eivada de um dramatismo que só ocorre algumas vezes e que afecta totalmente um artista.
E como já vai sendo hábito, mais um mojito e outra corona gorda...

Omara