quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Eliseo Parra - De Ayer Mañana

Músico da velha boa guarda espanhola, iniciado no rock durante a década de 60, cedo determinou que necessitava de aprofundar os seus conhecimentos académicos, pelo que se inscreveu no Conservatório de Barcelona e mais tarde na Aula de Jazz Y Percusión na mesma cidade. Depois de mais de vinte anos de estudos e a integrar vários grupos e orquestras, inicia uma carreira a solo onde engloba a sua própria composição com o folclore espanhol, namorando todo o som latino e o jazz. Nós, portugueses, temos também um cantinho na enorme caixa de música deste compositor e intérprete brilhante. Um grande desconhecido para mim, mais outra vergonha, que não vou parar de divulgar a quem se apreste a colocar as antenas sempre bem orientadas. Eliseo Parra é um intermediário que recolhe e transporta uma herança musical e a vai entregando aos mais novos, para que o ciclo se perpetue e a cultura prevaleça.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Amadou & Mariam - Wati

A riqueza da música do Mali aqui representada por este duo maravilha. Chamam a isto, genericamente, de Afro-Blues! Amadou Bagayoko e Mariam Doumbia, meninos da minha idade, conheceram-se numa instituição para jovens cegos, casaram-se e foram muito felizes...assim poderia acabar a história, mas eles quiseram muito mais, fizeram da música o seu grito de vida e durante duas décadas labutaram até ao reconhecimento amplo de que hoje dispôem. Atingem o auge da sua carreira quando são convidados a gravar o hino oficial do campeonato do mundo de futebol de 2006, mas esse é um acto menor, comparado com toda a sua produção. Uma mistura explosiva de guitarras eléctricas, metais e percussões variadas e sonoridades que vão desde o tradicional da sua terra natal até ao Médio Oriente, passando pela Índia e pelas Caraíbas. Se os olhos se perderam, os restantes sentidos dispararam em sensibilidade e ritmo.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Xaile - Xaile

A primeira vez que tive contacto com este grupo, foi apenas visual, numa TV sem som e fora de horas. Mas o silêncio despertou-me a curiosidade de saber a que soaria aquela mise en scène invulgar no contexto musical português. Foi no YouTube que consegui ouvi-los pela primeira vez e de tal forma gostei que não perdi tempo para conseguir o álbum. Fechando os olhos e escutando mais longe, encontraremos Zeca Afonso ou Fausto, Clannad, flashes que vão de África ao Brasil, palavras do nosso imaginário de criança, giroflé, pouca-terra pouca terra, sape gato lambareiro! É a pop fluida, são as melodias vindas da raiz tradicional portuguesa, são os jigs, o jazz e o funk. Três lindas raparigas que não só cantam, como tocam vários instrumentos e o mentor de tudo isto, Johnny Galvão, compositor, letrista, produtor, arranjador e instrumentista. Este é um disco que se ouve duma assentada e não para de nos surpreender em cada volta de chula ou malhão. A música portuguesa arejando as suas gavetas!

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Yungchen Lhamo - Ama

Nascida bem perto da cidade monástica de Lhasa, dali saiu com 23 anos rumo à Índia, atravessando os Himalaias e fugindo à opressão chinesa no Tibete. Daí até aos dias de hoje vai um longo trajecto musical e de vida que passou pela Austrália e pelos Estados Unidos. Aproveitou-se, no melhor sentido, de artistas como Annie Lennox, Billy Corgan, Sheryl Crow ou Natalie Merchant, actuando ao seu lado e dando a conhecer a sua música e a do seu povo. Foi a primeira cantora tibetana a assinar contrato com a Real World de Peter Gabriel e o seu trabalho foi produzido por Hector Zazou. Apesar da tentação de diluir as suas tradições de forma irremediável no grande caldeirão da música pronto-a-ouvir, tem mantido uma solene divulgação das suas raízes ancestrais, sem ser conservadora na sua abordagem e mantendo a sua original pureza.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Tinariwen - Amassakoul

Banda tuaregue, de imagem poderosa, com seus trajes e turbantes, formada por autênticos guerrilheiros da música, da palavra e da rebelião armada. Às metralhadoras a tiracolo juntaram as guitarras eléctricas e percorrem as areias com os seus cantos de revolta. A esta música de raiz tão funda, não ficaram indiferentes estrelas como Robert Plant ou Elvis Costello. Até o jurássico Carlos Santana se vergou ao encanto deste oásis sonoro. Thom Yorke confessou ter-se inspirado na sua música para compôr partes do seu disco a solo. A sua página oficial na web é das melhores que conheço e dispensa-me de mais comentários. Os Blues do deserto, ou uma hipnótica narrativa lírica, com vigor e com formosura.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Rodrigo Y Gabriela

Rodrigo Sanchez e Gabriela Quintero, mexicanos, epónimos deste albúm com brilho inovador, vieram para a Europa em perseguição dos seus sonhos e foi na Irlanda que se instalaram. A sua música parte das sonoridades latinas do seu berço, mas percorre trilhos que vão do flamenco ao heavy metal. Utilizam guitarras manufacturadas pelo artesão irlandês Frank Tate e utilizam-nas desde as cravelhas até ao fundo da caixa de ressonância. As suas influências declaradas e observadas vão de Paco de Lucia aos Metallica. Curiosa e revigorante é a versão da exausta Stairway to Heaven dos Zeppelin. Um dueto a seguir com atenção e que gostaria de ver ao vivo.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Concha Buika - Mi Niña Lola

Emoção pura! Uma gema magnífica em estado de lapidação, que espero, não perca nunca aquele sentimento mais profundo do seu ser que lhe leva a alma à gargante. Nascida em Espanha, filha de africanos da Guiné Equatorial, cresceu no meio cigano e desde muito cedo lhe reconheceram o talento que iria brotar. Começou pelo teatro, passou à música, iniciou-se na house onde obteve algum êxito. Cantou em casinos de Las Vegas, colaborou com os La Fura Dels Baus e foi maturando a sua carreira. Em 2005 lança o seu primeiro albúm, onde o funk é preponderante. "Mi Niña Lola" é uma saudável mistura de flamenco, soul e jazz, servida por esta voz rouca, sensual e intensa, onde há a que salientar a contribuição de Javier Limón. E se eu dissesse que este é o meu disco de 2007?

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Egschiglen - Zazal

Este foi o meu mais profundo mergulho no desconhecido da música tradicional universal. São, sem dúvida, sonoridades estranhas ao nosso ouvido viciado. Mas são belas, fascinantes, quando nos despimos de tolos preconceitos e nos dispomos a elas. O que mais me arrebatou foi o canto em armónicos (múltiplas notas executadas em simultâneo) que duvidei, em primeira análiise, ser produzida por uma só voz humana. Sintetizadores ou um qualquer instrumento de sopro regional, pensei! Simplesmente arrepiante a audição desta sublime técnica vocal, chamada de throat-singing e que tem vários estilos. Se me fosse pedido para ordenar os melhores dos melhores que ouvi no ano transacto, decerto que poria este disco nos lugares de topo. Foi para mim, a surpresa tornada sincera paixão!

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Gjallarhorn - Sjofn

Gjallarhorn é nome de trompa de guerra. A música desta banda finlandesa é metade feita com sons épicos oriundos do folclore escandinavo, repartido pela Suécia, Finlândia e Noruega e outra metade de pacíficas miragens frias e doces. É deste triângulo nórdico que surge a atmosfera de magia inspirada na mitologia. O título do album é Sjofn, nome atribuído à deusa da paixão! Das medievais baladas melodiosas aos rufares vikings, vai o contraste em que vive a música dos Gjallarhorn. É a suavidade das vozes e das cordas quebrada pelo tonitruante vigor da secção rítmica. É este cá e lá que deixa o ouvinte expectante e nunca em risco de monotonia. Vêm-nos à lembrança os fabulosos Hedningarna de quem prometo voltar a falar e mostrar um dia destes.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Farlanders - The Farlander

Este é um disco simplesmente surpreendente que só vim a conhecer quase uma década depois da sua edição. Onde é que eu andava? Os Farlanders são russos, e os seus principais mentores são Inna Zhelannaya e Sergey Starostin, músicos com formação clássica que depois enveredaram por outras paragens e que, ao que julgo, continuaram carreiras separadas, pois a informação sobre este grupo é tão escassa que não sei mesmo se ainda existem como tal. A partir da música tradicional russa e utilizando, sem pudores, instrumentos de várias regiões do mundo, percorrem trilhos que vão do rock ao jazz, com muito funk pelo meio e atravessando sem vergonhas o mainstream, o que até lhes assenta muito bem. Agradeço a quem mais souber sobre os Farlanders que me actualize os conhecimentos. Aqui vos deixo um trecho do disco que agradavelmente me sobressaltou.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Huong Thanh - Dragonfly

Esta vietnamita, oriunda de uma família de músicos tradicionais de Saigão, vivendo em Paris, sempre preservou a sua identidade cultural e vem vindo a fazê-lo da melhor forma possível. Com a preciosa ajuda do seu amigo Nguyên Lê (outra vez ele), interessou-se pelo jazz e mergulhou nele com todas as suas raízes musicais e poéticas. A escuta deste CD leva-nos num vai e vem pelo Oriente e pelo Ocidente ou pelos dois em simultâneo. Possuidora de uma voz característica do seu berço natal, com inflexões constantes, ornamenta as melodias que interpreta de um profundo bom gosto. Podemos ouvir aqui também a guitarra baixo sempre majestosa de Richard Bona. É com personalidades destas que as pequenas e as grandes culturas se revigoram e triunfam, em prol de uma grande Cultura Universal, pacífica e generosa...

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Dhafer Youssef - Electric Sufi

Este CD é uma jóia rara de tranquilidade, beleza e exotismo. Faz-se a alquimia a partir do Jazz e da música Sufi (corrente mística e contemplativa do Islão), vagueando pelo Norte de África e com alguns laivos de drum'n'bass.
Dhafer nasceu na Tunísia, mas foi na Europa que veio ao encontro do seu gosto pelo Jazz e pelas músicas nórdica e indiana. Instrumentista singular de alaúde e dotado de voz de grande amplitude, reune-se sempre com músicos de elite. Neste caso é Markus Stockhausen, trompetista (filho do compositor) que tive grata oportunidade de ver e ouvir no Teatro Aveirense, ao lado do guitarrista Nguyên Lê e do saxofonista/maestro Gianluigi Trovesi. Mais uma pérola que trago para vossa apreciação...

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Richard Bona - Munia The Tale

Músico camaronês, exímio baixista, exibe a par da sua virtuosidade, o que para mim é sempre pouco, uma sensibilidade elevada a topos e uma manifesta boa disposição quase permanente. Uma simpatia de pessoa, presumo. Uma primeira escuta revela-nos à partida quanto importante foi a influência de Jaco Pastorius na sua formação musical. Emprestou o seu talento em colaborações com gente como Salif Keita, Didier Lockwood, Larry Coryell, Michael Brecker, Steve Gadd e Pat Metheny. À sua maestria na execução do baixo eléctrico, acrescentou a voz linda e aveludada que sabe usar de forma superior. Para quem construiu a sua primeira guitarra a partir do depósito de gasolina de uma motocicleta, não deixará de ser motivo de grande orgulho ser agora professor na New York University. A arte move montanhas!

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Pietra Montecorvino - Napoli Mediterranea

Cantora e actriz, com uma carreira de 25 anos, mas com uma obra discográfica bem parca, quando comparada com a qualidade deste CD, do qual junto amostra na Minha Caixinha. Melodias napolitanas de sempre, já tantas vezes replicadas, aqui abordadas com bastante originalidade e com a adição de sons das outras margens do Mediterrâneo. Pietra Montecorvino rasga-se por dentro e entrega-nos em mão os pedaços que de si tirou, transformando coisas tão repetidas em coisas quase novas. Assim se mostram os talentos e as virtudes...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Hazmat Modine - Bahamut

A América é mais, muito mais que Bush, roupa XXXXL, pena de morte, muitos pesadelos travestidos de "O Sonho"! Muito mais que a música a metro e ao quilo que abastece as FM por esse mundo fora, seja ela confeccionada por novos efémeros, ou por velhos jurássicos do business. Temos sempre os blues, quando abordados com o devido respeito ou executados na boa velha tradição.
Os Hazmat Modine são um pouco disso, mas também klezmer, R & B, jazz, rockabilly, oriente, África, eu sei lá...
Alguns dos membros deram o seu contributo a nomes como: Karrin Allyson, Carla Bley, Taj Mahal, Charlie Haden, Gil Evans, Lionel Hampton, Natalie Merchant, Indigo Girls (há que tempo que não as ouço!), Frank London, Norah Jones, Chucho Valdez, etc...
Neste cd dei de caras e ouvidos com o canto da garganta, embora ainda ao de leve. Foi mais adiante que fiquei pregado ao chão com os sons por mim nunca antes escutados dos Egschiglen. Mas isso serão contas para um rosário que há-de vir...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Oi Va Voi - Laughter Through Tears

O ano de 2007 foi determinante para mim e para as minhas campanhas musicais. Ouvi de tudo, tirei proveitos e também tive as minhas rejeições. O tal filtro que emprego de forma ingénita e de que não me tenho queixado, pelo menos nestes últimos tempos! A minha primeira experiência directa com a música klezmer, deu-se em 2005, nos "Sons em Trânsito", num concerto inolvidável dos Klezmatics. O apetite ficou desperto. Encontrei os Oi Va Voi e lá estava ela de novo, agora em mistura com outros sons do leste europeu, da música ladino, do mediterrâneo de ambos os lados, da pop e da electrónica! Oi Va Voi significará "Oh, Querida (o)" em ladino (moderno hebraico). Música muito querida para mim...

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Amaro Del - Baro Than

A primeira vez que ouvi esta canção, não resisti e de seguida divulguei-a a um punhado de gente amiga. Era a música cigana dos Balcãs a bater-me pela primeira vez e com força! Simples, bem feito, expressivo e a pele de galinha não pede licença para se manifestar...
Têm disco novo, mas ainda não tive tempo de lhe pôr o ouvido. Fiquem-se com esta pequena jóia e consultem o site dos Amaro Del
Foi também a primeira vez que comprei música avulsa na net, numa loja da especialidade. yu4you
Boa música!

Mônica Salmaso - Iaiá

Comecemos então por esta paulista, minha primeira paixão do início de 2007! Iniciada no teatro onde participou na peça iconoclasta "O concílio do amor" de Oscar Panizza, em 1989, começa a gravar em 1995, sempre ladeada por músicos de primeira, buscando na tradição e nos autores consagrados. Intérprete por excelência, oferece-nos uma voz de timbre quente e envolvente, suave e insinuante que me enfeitiçou ao primeiro ouvir!
Paralelamente, contribui com o seu talento para a edificação da Orquestra Popular de Câmara, projecto que mistura a contemporaneidade com a tradição da música brasileira.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Início das hostilidades - Os melhores de 2007

Farto da música que nos vão querendo enfiar pelos ouvidos, maioritariamente com proveniência anglo-americana e quase sempre com qualidade mais do que duvidosa, decidi ir em busca de sons que me saciassem o meu aparelho auditivo, sempre ávido e filtrante.
Desde há alguns anos que, de modo algo reticente, ia ouvindo alguma música brasileira, irlandesa, alternativas ao rock, pop, country e todas essas coisas que nos iam chegando ao mercado normal. Agora e à distância, vejo a besta que fui, por me ter prendido a preconceitos que me privaram de escutar obras que na altura repudiei só para não ficar mal na fotografia da tribo.
Foi com os "Sons em Trânsito" e com um concerto de Susana Baca que acordei para a realidade da grandeza desta música de todo o mundo.
Não há dia ou semana que não seja surpreendido por uma sonoridade diferente! A internet foi e continua a ser uma fonte inesgotável de música sempre corrente, fresca, inovadora, tradicional, mesclada, muitas vezes brilhante!
É com satisfação que vejo muita juventude a abraçar estas músicas que nos chegam dos quatro cantos do mundo, quer na procura de cd's, quer na ida aos concertos. Bom sinal!
Nesta época, é habitual fazer-se o balanço do ano transacto, elaborando listas dos melhores artistas, dos melhores discos, dos melhores cd's...Para aqueles que queiram entrar neste mundo grandioso, deixo algumas sugestões com base naquilo que de melhor ouvi no ano de 2007. Não segui nenhum critério especial, não me limitei a nenhum ano de edição e aliás, só indico um disco do ano agora findo.
A lista segue conforme fui descobrindo cada músico, cada grupo, cada disco, abrangendo uma década de sons!
Irei colocando aqui excertos destes cd's para prévia ouvidela e se quiserem mais pormenores ou mais temas ou canções, é só dizer...
Bom 2008 e sempre, sempre boa música!!!

Mônica Salmaso - Iaiá (2004)
Amaro Del - Baro Than (2001)
Oi Va Voi - Laughter Through Tears (2004)
Hazmat Modine - Bahamut (2006)
Pietra Montecorvino - Napoli Mediterranea (2004)
Richard Bona - Munia-The Tale (2003)
Dhafer Youssef - Electric Sufi (2002)
Huong Thanh - Dragonfly (2001)
Farlanders - The Farlander (1999)
Gjallarhorn - Sjofn (2000)
Egschiglen - Zazal (2002)
Concha Buika - Mi Niña Lola (2006)
Rodrigo Y Gabriela - Rodrigo Y Gabriela (2006)
Tinariwen - Amassakoul (2004)
Yungchen Lhamo - Ama (2006)
Xaile - Xaile (2007)
Amadou & Mariam - Wati (2003)
Eliseo Parra - De Ayer Mañana (2005)
Ronan O'Snodaigh - Tip Toe (2001)
Amestoy Trio - Le fil (2003)

PS - Quero sublinhar, em separado, um cd que não conhecia e que contém alguns dos melhores momentos de Amália - Segredo (1997)