sexta-feira, 30 de maio de 2008

Eliza Carthy - Anglicana

Comigo a música funciona assim: ouço, gosto, reservo e mais cedo ou mais tarde, ou por lembrança, ou por associação a um qualquer estímulo, volto a querer ouvir com anseio. Passo anos sem repetir uma audição, mas a todo o momento a memória acende-se. Falei de Eliza Carthy a propósito do post anterior e o reflexo pavloviano irrompeu do nada.
Herdeira de um património de luxo, filha de dois lendários músicos da folk britânica, Martin Carthy e Norma Waterson, não desperdiçou o acaso e partindo desses e com esses legados, encetou uma bonita carreira, cantando e tocando violino e piano.
Este disco celebra o retorno às raízes profundas de que nunca se soltou verdadeiramente, depois de várias experiências à volta do folk-rock e de naturais processos de maturação. Um trabalho inspirado, inteligentemente elaborado e misturando em doses apuradas, a recriação própria com as virtudes da família de novo reunida. O resultado revela-se uma delícia para os sentidos visados.

Anglicana

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Billy Bragg And Wilco - Mermaid Avenue

Da reunião entre o inglês Billy Bragg e a banda norte-americana Wilco, resultou este disco assaz interessante, realizado a partir de algum espólio deixado por Woody Guthrie e nunca antes editado. Assim do velho se fez novo e do passado, modernidade.
Confesso que quando comecei este projecto não tinha intenções de dedicar grande espaço à música anglo-americana, por demais divulgada. Com a revisita às minhas prateleiras, tomei consciência de que há muitas obras que são desconhecidas pela maioria e que são parte da verdadeira essência das culturas que representam. Decidi que não seria justo para comigo deixar estas e outras memórias distraídas ou apagadas.
De regresso ao CD, direi que os protagonistas se rodearam de gente de valor e estatuto reconhecido. Natalie Merchant (10.000 Maniacs, lembram-se?), Eliza Carthy (Waterson: Carthy, conhecem?) e Corey Harris (The Blues, episódio realizado por Martin Scorsese e Sons em Trânsito/05, viram?).
Com o aval deste vosso modesto servidor, embrenhem-se nesta América profunda que, embora baseada em negativos a preto e branco, se revela em cores vivas!

Mermaid Avenue

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Lucinda Williams - Car Wheels On A Gravel Road

Quando na minha apresentação acerto que vou sugerir alguma música de todos os cantos da Terra, não pretendo prescindir, por algum mesquinho preconceito, de nenhum lugar ou de nenhuma cultura. Logo, não há razão alguma para deixar de lado os gigantes anglo-americanos, já que no meio de tanto lixo editorial, existem sempre pérolas enclausuradas nas suas conchas. Lucinda, embora liberta dessa reclusão, continua uma quase desconhecida por esse mundo fora e nem alguns prémios da máquina comercial a levaram ao reconhecimento justo dos seus compatriotas.
Exigência, subtileza de estilo e muita coerência, são condições e alicerces sólidos para a sua obra de quase trinta anos, exibida em apenas oito álbuns de originais. Este é o seu disco mais mainstream e que mais êxito obteve, o que não significa ser um trabalho menor, antes pelo contrário. Chamem-lhe country alternativo, country-rock ou o que bem aprouverem, isto é boa música americana e pode emparceirar com o melhor de Johnny Cash ou Steve Earle, na rudeza e na beleza!

Car Wheels

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Susana Baca - Espíritu Vivo

Este CD tem uma pequena história por detrás, que me me deixou uma terna e indelével marca. A minha Lia, adoradíssima filhota, acabara de entrar no ensino primário e cabia-me a tarefa quotidiana de a levar matinalmente à escola. (Já referi aqui que por essa altura a TSF tinha uma programação musical associada às notícias, da melhor que se praticou neste país.) Uma canção despertou um interesse mútuo, enquanto seguíamos viagem e escutávamos o auto-rádio. Espontaneamente e de altíssima voz, em uníssono, acompanhávamos Susana Baca e o seu Toro Mata. Isto repetiu-se por várias manhãs. Passado pouco tempo, a cantora esteve em Aveiro e a Lia assistiu pela primeira vez a um concerto musical. Teria assistido...se, devido ao tardio da hora e ao cansaço da ginástica rítmica, não tivesse adormecido à segunda música. Valeu que o concerto começou com o...Toro Mata!
Espíritu Vivo tem o tradicional peruano, a abordagem muito pessoal a canções da grande Chabuca, a Caetano Veloso e à sua negritude, ao clássico Les Feuilles Mortes de Jacques Prevert e à pequena maravilha que é The Anchor Song da minha muito querida Bjork.
Uma exortação à vida e aos recônditos das harmonias, gravado em Nova Iorque na semana do 11 de Setembro...

Espíritu Vivo